A Aldeia Gameleira, com toda sua abundância de frutas, ervas medicinais, quintais produtivos, histórias e vidas, desde fevereiro recebe as atividades do projeto “Território e Cultura Alimentar no Ceará”, correalizado pela Associação Slow Food do Brasil e Secretaria do Desenvolvimento Agrário do Ceará (SDA), por meio do Projeto São José, em confluência com povos indígenas do estado.
As ações no território do povo Tapuya Kariri, localizado no município de São Benedito, na Serra da Ibiapaba, tem mobilizado toda comunidade, jovens, troncos velhos, professores e professoras da Escola Indígena Francisco Gonçalves de Sousa, lideranças e membros da Associação Indígena Tapuya Kariri e da Associação Comunitária Chapada I, em um processo participativo com foco na valorização dos seus modos de vida tradicionais.
Com o objetivo de reunir as principais vozes da comunidade e definir coletivamente a agenda do projeto no território, a primeira etapa das atividades foi dedicada ao Planejamento Participativo. Na oportunidade, foram realizadas rodas de conversas e caminhadas na aldeia, onde se destacou a presença de representantes da Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará (SEPINCE), inclusive da Cacique Irê do povo Jenipapo-Kanindé, Juliana Alves, Secretária de Povos Indígenas do estado. Um momento essencial para escutar as demandas e balizar as necessidades institucionais em consonância com as prioridades locais.
A Formação de Inventariantes Culturais foi a etapa seguinte e marcou o início da construção do Inventário Participativo da Cultura Alimentar Tapuya Kariri. Ao longo de quatro dias de atividades, os participantes foram capacitados para serem pesquisadores da própria cultura, desenvolvendo o olhar para mapear e registrar os saberes e práticas, além dos sabores e das tradições que compõem o patrimônio alimentar do povo Tapuya Kariri. As atividades envolveram conversas, dinâmicas de grupo, troca de mudas e sementes, além da exibição de vídeos e a articulação entre jovens e troncos velhos.
Compreendendo a importância do protagonismo da juventude indígena para que as memórias culturais sigam vivas e sendo compartilhadas, os encontros do Percurso em Comunicação Popular contribuíram para um potente intercâmbio intergeracional, fortalecendo a atuação coletiva para elaboração do inventário. Os jovens experimentaram o uso de câmeras DSLR, smartphones, microfones e gravadores, construíram uma linha do tempo de conteúdos relevantes para a comunidade e realizaram entrevistas com os mais velhos, focando em temas como agricultura ancestral e medicina tradicional, onde foram contadas as histórias dos alimentos cultivados e sua relação com o território.
Antes de começar o período das vivências para o aprofundando dos registros textuais e audiovisuais que compõem o inventário participativo, a comunidade voltou a se reunir com a equipe do Slow Food para construir o Plano de Salvaguarda do Território e da Cultura Alimentar Tapuya Kariri. Uma ferramenta metodológica inspirada em processos de gestão do patrimônio imaterial, adaptada para refletir sobre a realidade e os desafios traçando estratégias de valorização e conservação das práticas alimentares tradicionais e o fortalecimento territorial, desde as Casas de Farinha, até os saberes sobre sementes nativas, manejo do solo, preservação das águas, combate ao uso de agrotóxicos e o à políticas públicas.
Os momentos coletivos de cada etapa do projeto têm sido mais do que atividades e ações participativas, são encontros de gerações. “É de grande importância para que as nossas crianças, os nossos jovens, eles vão aprendendo com esses guardiões da memória”, afirma a Secretária de Povos Indígenas do Ceará, Juliana Alves.